Pages

domingo, 16 de novembro de 2008

Ensaio para "Lá"

(Vem de longe com sua bicicleta. Usa trajes de uma cultura diferente. Andando em círculos com a bicicleta vai falando)
Venho andando com minha bicicleta de bronze por milhas e milhas de terras; passei por todas as veredas, vias e estradas. Já topei com anjos e diabos nas entradas, apesar do movimento, minha vida continua parada. (Pára de andar)
Por mais que estas paisagens mudem, por mais que o vento tome outro sentido eu sempre me sinto no mesmo lugar. O sol queima do mesmo jeito, a areia irrita da mesma forma e o meu objetivo ainda não se torna feito. Ah!, chuva cai em meu rosto pra aliviar minha tensão; caminhos e caminhos pra sair dessa prisão!
(Enfurecendo-se)
O mundo!
O mundo é essa jaula nefasta que me persegue e faz de meu corpo tuas futuras cinzas! Para quê? De tantos tempos sobrevividos nesta terra de ambição, para quais fins tudo isso ainda existe?
Acaba com tudo, Deus!
Faça tua promessa do apocalipse e arraza com fendas e explosões todas as dimensões desse circo chamado Terra! Faça chover dinheiro para que todos os homens se matem em torno desta ambição! Caia o céu, abra-se a terra; engula tudo e não sobrará nada!
Deixe o mundo limpo e virgem como naturezas isoladas. (Chora)

E eu já não agüento mais. Somo forças para livrar-me de maus sentimentos, mas esses crápulas, nojentos e filhos-da-puta não páram de me perseguir.
(Gritando para vários lados) Fuja! Fuja! Fuja!
Pra onde? Pra onde, meu Deus? Dê-me uma luz! Leva-me ao inferno, mas me tira daqui!

(Cai de joelhos no chão, chorando)

Onde está tudo isto? Por onde andam as aves gorjeadoras? Pasárgada! Oz! País das Maravilhas! Qualquer lugar... (Ofegante) que me dê paz.

Mas, eu ainda chego lá! Lá: nas quinquilharias de meu vazio.

(Otimista pega a bicicleta e some.)

domingo, 2 de novembro de 2008

A gralha vaidosa


A gralha sempre acalentara o sonho de ser bonita como um pavão.

- Já sei! Vou aproveitar que os pavões estão em época de muda, colherei as penas que estão no chão e todos pensarão que sou um pavão!

E foi isso que ela fez. Ao admirar-se nas águas transparentes do lago, que refletiam seu novo visual, com penas e olhos nas pontas, a gralha achou-se o máximo. Pensando que ia abafar, foi ao encontro das outras gralhas.

Lá chegando, ao invés de elogios, ela recebeu muitas vaias e foi enxotada a bicadas.

- Fora! Fora! Se você não tem orgulho de ser uma de nós, vá procurar a sua turma - gritavam as gralhas em coro.

Enquanto saía às pressas dali, a gralha refletiu:

- É isso! Eu preciso encontrar minha nova turma.

E saiu em disparada ao encontro dos pavões.

Assim que viram aquela ave esquisita se aproximando, os pavões colocaram-na para correr.

- Fora! Fora! Você não é e nunca será um pavão!

E, assim, a gralha conseguiu apenas o desprezo de todas as aves.



Fábulas de Esopo, Jean de La Fontaine, adaptação de Lúcia Tulchinski



_________________________________________


Qual é a moral da estória?